Reality show, mídia e sociedade

          Os programas com temática real dominaram a preferência do público. No Brasil, a onda de realitys shows é tão forte que produções como o Big Brother Brasil, A Fazenda, No Limite, Ídolos, entre muitos e muitos outros, têm garantido ótimos índices de audiência para as emissoras que os exibem, atraindo, assim, milhares de curiosos. Mas para entender o poder que tal fenômeno exerce sobre a sociedade e a relação de identificação que ele tem sobre as pessoas, é necessário fazer um paradoxo da cultura de massa com a do controle pós-Moderno. O artigo “Do Grande aos Pequenos Irmãos”, escrito pelos professores de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Uerj, Ronaldo Helal e Márcio Souza Gonçalves é um bom caminho.
          Para entender o grande fenômeno de público, o Big Brother Brasil – hoje em sua 10° edição - os autores vão buscar a origem do nome do programa no livro “1984”, escrito em 1948 por George Orwell. Nele, o Big Brother (ou Grande Irmão, como foi traduzido nas versões lusófonas do livro) é o líder que tudo vê, que governa o mundo ocidental em um futuro fictício, revelando assim, o temor do totalitarismo via os meios de comunicação de massa.
          O "Grande Irmão" (Big Brother) no original é um temido personagem fictício do romance. Trata-se de um enigmático ditador da Oceania. Na sociedade descrita por Orwell, todas as pessoas estão sob constante vigilância das autoridades, principalmente por “teletelas”, sendo constantemente lembrados pela frase propaganda do Estado: "O Grande Irmão está te observando". A expressão é usada geralmente para descrever qualquer excesso de controle ou autoridade por uma figura, ou tentativas por parte do governo de aumentar a vigilância.
          Se antes, a vigilância era vista como algo negativo, já que ninguém queria se sentir vigiado durante todo o tempo, hoje, com a espetacularização da privacidade, o desejo do outro em olhar e ser vigiado, controlar e ser controlado pela vida alheia (através do voto), e exercer a constante vigilância torna-se algo prazeroso. É o que acontece com os reality shows.
          Desse modo, o comportamento dos participantes desses programas é algo totalmente questionado. Seja pela fama ou pelo dinheiro, eles criam personagens para a multidão que não conhecem, desafiando os próprios limites. Tudo com um tempero dado pela edição do programa.
          Sobre a fama, com raríssimas exceções, vale destacar que os participantes ganham um reconhecimento público repentino que, se não fundamentados no talento e no trabalho duro, torna-se impossível sustentá-los. Basta relacionarmos a fama das artes e dos esportes com a fama dos ex- “BBB’s” e observamos que, neste segundo caso, a fama se dá através do acaso, da sorte, da edição que a mídia faz dos participantes e não através do talento e do empenho. Isso aumenta a identificação com os telespectadores, tornando-se ainda mais popular.
          Por fim, no que se refere à mídia, podemos analisar o fenômeno reality show com a Teoria do Agendamento, aquela em que os veículos de comunicação pautam os assuntos, com o papel de exercer o pensamento crítico e o controle social sutil e indireto exercido sobre o público. É o que acontece com os espaços que os jornais, revistas e programas de rádio e televisão dão aos assuntos relacionados a esses programas. É a mídia construindo a figura do herói da sociedade moderna, e se apropriando da realidade. Como bem escreveu Helal e Gonçalves: “Em plena era de expansão de regimes totalitários, a figura do herói seria uma fabricação das elites dominantes para manipular a população, fazendo com que esta se tornasse apática em estado de permanente fascínio pelo herói fabricado”.

TRILHA SONORA DA VIDA


Quem nunca voltou ao passado ou visitou acontecimentos especiais e outros nem tanto ao ouvir uma determinada música? É curioso imaginar que uma canção possa nos remeter a um passado, às vezes muito distante. Ou nos projetar para um futuro que ainda não nos pertence. É como se nossa vida tivesse uma trilha sonora, composta por variados gêneros. Ora salsa, ora samba, ora choro, ora valsa... O fato é: a música está sempre presente em nossas vidas, marcando momentos. Mas o que determina essa influência sobre nós?

A resposta pode estar na mitologia grega, já que a palavra música vem do grego musiké téchne ou “artes das musas”. Reza a lenda que depois da vitória dos deuses do Olimpo sobre os seis filhos de Urano, mais conhecidos como “Os Titãs”, foi solicitado a Zeus, o rei de todos os deuses, que se criasse divindades capazes de cantar tal feito. Da união de Zeus com a deusa da memória, Mnemosina, nasceram então as nove Musas, dentre elas Euterpe (a música) e Arde (o canto).

Pesquisando mais a fundo, veremos que todo povo possui uma manifestação mitológica sobre a música, o que a torna uma das expressões mais antigas e importantes. Se formos supor, o próprio homem das cavernas, apesar da falta de vestígios que comprovem a existência de qualquer entendimento sobre os sons, materializava a expressão de seus sentimentos através da observação e reprodução dos sons da natureza.

Mas por que cada povo ou cada pessoa tem predileção por um estilo de música diferente? Por que cada canção nos remete a determinados momentos? A explicação pode estar está na junção dos três elementos que dão vida à música: o ritmo, a harmonia e a melodia. Delas, resultam as dissonâncias, do latim dissonantia ou “desarmonia” e as consonâncias, do latim consonantia, ou concordância, que é o que diferencia as culturas e consequentemente os gostos musicais. Cada povo tem o seu e o que soa bem para determinado ouvido, pode não soar para outro.

Por tudo exposto, faça uma reflexão: qual a trilha sonora da sua vida? É de reggae, de funk ou de pop? Tango, pagode ou hip hop? Ou seria uma junção de todos, bem como o caminho da vida, ora de consonantias, ora de dissonantias?


O BOM SENSO MORREU?

Circula na internet uma interessante corrente intitulada “Bom senso, infelizmente morreu”. Diferente daquelas mensagens que recebemos o ano todo com promessas de que seremos abençoados em cinco minutos, ou que receberemos uma bolada da Microsoft e da UOL se repassarmos para todos os amigos e ainda cestas da Nestlé, entre outras garantias, essa vale a pena ser transcrita.

Caro amigo, é com muita tristeza que lhe participamos o falecimento de um amigo muito querido que se chamava BOM SENSO e que viveu muitos anos entre nós. Ninguém conhecia ao certo a sua idade, pois o registro do seu nascimento foi desclassificado há muito tempo, tamanha a sua antiguidade. Mas lembramo-nos muito bem dele, principalmente por algumas de suas lições de vida, como: “Não podemos esperar tudo dos outros” ou ainda “O que me acontece também pode ser em parte por minha culpa”. O BOM SENSO só vivia com regras simples e práticas como “não gastar mais do que se tem”. Acontece que o BOM SENSO começou a perder o chão quando os pais passaram a atacar os professores que acreditavam ter feito bem o seu trabalho querendo que as crianças aprendessem o respeito e as boas maneiras. Agravou-se o seu estado de saúde quando soube que um educador foi afastado ao repreender um aluno por comportamento inconveniente na aula. Enfim, o BOM SENSO perdeu a vontade de viver quando percebeu que os ladrões e os criminosos tinham melhor tratamento do que suas vítimas. Também recebeu fortes golpes morais e físicos quando a Justiça decidiu que era crime defendermo-nos de algum ladrão na nossa própria casa, enquanto a este último é dada a garantia de poder queixar-se por agressão e atentado à integridade física. Certamente você já percebeu que a morte do BOM SENSO foi precedida pelo falecimento dos seus pais: VERDADE e CONFIANÇA, da sua mulher: DISCRIÇÃO, da sua filha: RESPONSABILIDADE e do seu filho: JUÍZO. Então, o BOM SENSO deixa o seu lugar para três falsos irmãos: “Eu conheço os meus direitos e também os adquiridos”, “A culpa não é minha” e “Sou uma vítima da sociedade”. Claro que não haverá multidão no seu enterro, porque já não temos muitas pessoas que o conheçam bem, e poucos se darão conta de que ele partiu. Mas, se você ainda se recorda dele e caso queira reavivar a sua lembrança, previna todos os seus amigos do desaparecimento do saudoso BOM SENSO fazendo circular esta comunicação.


O texto acima nada mais é do que a expressão fiel da crise de valores em que vivemos, onde o certo se confunde com o errado e vice-versa. Onde pensar como se fôssemos o outro e nos colocarmos no lugar do outro antes de tomar uma atitude que vá realmente afetar o outro, são atitudes cada vez mais escassas. Enviar por dia no mínimo cinco correntes de oração, promessas de dinheiro e cestas de chocolate nestes tempos de falta de tempo, certamente não é uma atitude de bom senso.

Neste início de ano desejo, além de muita paz, saúde, amor e dinheiro, também muito bom senso, válido até na hora de decidir quais correntes de e-mail merecem ser repassadas.