Charge: humor e poder na comunicação

A charge é um estilo de ilustração que tem por finalidade satirizar, de forma implícita, por meio de caricatura, ou traço marcante, algum acontecimento atual. O termo vem do francês charger, que significa “carga” (de “carga de cavalaria”), “exagero”, ou até mesmo “ataque violento”. Ela foi criada no início do século XIX, como instrumento de oposição ao governo e permanece até hoje com o mesmo sentido.

A política é, na maioria das vezes, o alvo das charges. Não à toa, afinal, o mundo político já virou, há muito tempo, motivo de piada em diversas rodas. Com meia dúzia de palavras, ou nenhuma, a charge fala, nas entrelinhas da sutileza, mais do que um editorial de três parágrafos poderia dizer. Por esse motivo, a charge é, mais do que um desenho engraçado, uma poderosa ferramenta de crítica, pois sua simplicidade, embora carregada de informação e complexidade, se faz entender por pessoas não cultas – para compreendê-la basta estar por dentro do assunto. Mas para se fazer compreender, o chargista também precisa conhecer a visão de mundo e o contexto que o liga ao leitor. Fazer piada de português no Brasil dá certo, já em Portugal...

A polêmica que envolveu as diversas charges do profeta Maomé (em especial a que mostrava o profeta usando um turbante em formato de bomba com um pavio aceso), publicadas em setembro de 2005 por um pequeno jornal dinamarquês, é um exemplo que não pode deixar de ser citado, pois teve repercussão em todo o mundo e virou assunto diplomático. Na época, milhões de muçulmanos foram às ruas protestar contra os desenhos. O autor das charges, Lars Vilks defendeu seu trabalho dizendo se tratar de arte, mas algumas comunidades árabes e muçulmanas entenderam como insulto, pois estigmatizava os muçulmanos como terroristas. É claro que esse caso envolve, entre outras, questões muito maiores como religião e as diferenças entre Ocidente e Oriente, mas sem dúvida, mostra o poder da imagem como instrumento de comunicação e como ferramenta de expressão de uma ideia.

Apesar da inegável força da charge como instrumento de crítica político-social e de opinião, algumas ciências humanas, dentre as exceções a Antropologia e a Comunicação, e também alguns estudiosos do assunto, não consideram a imagem um veículo eficaz de informação, mas um objeto secundário dela, apenas um suporte para o texto. Para eles, a imagem (nesse caso a charge), especialmente em função do humor que carrega, não é capaz de sozinha, oferecer conclusão racional sobre o assunto, haja vista que o seu caráter lúdico põe à mesa uma diversidade de interpretações. Tal pensamento acaba desqualificando o trabalho do chargista, algumas vezes não reconhecido e até mesmo censurado dentro do próprio veículo em que trabalha.

Diferenças à parte, a charge é e continuará sendo instrumento de oposição fundamental para a sociedade, além de registro do cotidiano nacional e internacional, cheia de opinião, ousadia, reflexão, irreverência e humor. Já o chargista é e será aquele a dar, com seus traços particulares e toque pessoal, a oportunidade da tão necessária e importante reflexão ao leitor.

4 comentários:

Rodrigo Lopes Bernardes disse...

AHUauhauhaUHAU!! Boa!

DESVIO DE ROTA disse...

muito boa a matéria!

Luiz disse...

E eu digo:Estou duplamente "ORGULHOSO"
pai/Bernardes

Ludmilla Lopes disse...

puxa.... essa é minha prima !!!!
Parabéns, Jainha!!!Muito boa a matéria.
Bjs
Lud