A política é, na maioria das vezes, o alvo das charges. Não à toa, afinal, o mundo político já virou, há muito tempo, motivo de piada em diversas rodas. Com meia dúzia de palavras, ou nenhuma, a charge fala, nas entrelinhas da sutileza, mais do que um editorial de três parágrafos poderia dizer. Por esse motivo, a charge é, mais do que um desenho engraçado, uma poderosa ferramenta de crítica, pois sua simplicidade, embora carregada de informação e complexidade, se faz entender por pessoas não cultas – para compreendê-la basta estar por dentro do assunto. Mas para se fazer compreender, o chargista também precisa conhecer a visão de mundo e o contexto que o liga ao leitor. Fazer piada de português no Brasil dá certo, já em Portugal...
A polêmica que envolveu as diversas charges do profeta Maomé (em especial a que mostrava o profeta usando um turbante em formato de bomba com um pavio aceso), publicadas em setembro de 2005 por um pequeno jornal dinamarquês, é um exemplo que não pode deixar de ser citado, pois teve repercussão em todo o mundo e virou assunto diplomático. Na época, milhões de muçulmanos foram às ruas protestar contra os desenhos. O autor das charges, Lars Vilks defendeu seu trabalho dizendo se tratar de arte, mas algumas comunidades árabes e muçulmanas entenderam como insulto, pois estigmatizava os muçulmanos como terroristas. É claro que esse caso envolve, entre outras, questões muito maiores como religião e as diferenças entre Ocidente e Oriente, mas sem dúvida, mostra o poder da imagem como instrumento de comunicação e como ferramenta de expressão de uma ideia.
Apesar da inegável força da charge como instrumento de crítica político-social e de opinião, algumas ciências humanas, dentre as exceções a Antropologia e a Comunicação, e também alguns estudiosos do assunto, não consideram a imagem um veículo eficaz de informação, mas um objeto secundário dela, apenas um suporte para o texto. Para eles, a imagem (nesse caso a charge), especialmente em função do humor que carrega, não é capaz de sozinha, oferecer conclusão racional sobre o assunto, haja vista que o seu caráter lúdico põe à mesa uma diversidade de interpretações. Tal pensamento acaba desqualificando o trabalho do chargista, algumas vezes não reconhecido e até mesmo censurado dentro do próprio veículo em que trabalha.
Diferenças à parte, a charge é e continuará sendo instrumento de oposição fundamental para a sociedade, além de registro do cotidiano nacional e internacional, cheia de opinião, ousadia, reflexão, irreverência e humor. Já o chargista é e será aquele a dar, com seus traços particulares e toque pessoal, a oportunidade da tão necessária e importante reflexão ao leitor.

4 comentários:
AHUauhauhaUHAU!! Boa!
muito boa a matéria!
E eu digo:Estou duplamente "ORGULHOSO"
pai/Bernardes
puxa.... essa é minha prima !!!!
Parabéns, Jainha!!!Muito boa a matéria.
Bjs
Lud
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